terça-feira, 26 de abril de 2011

Sobre acentuação

Oi, galera!
Para quem já assistiu às aulas sobre acentuação, deixo aqui uma obra prima da MPB (Música Popular Brasileira). É a música "Construção". Chico Buarque, um dos maiores compositores da atualidade, escreveu sobre um operário que sai um dia para trabalhar, mas sofre um acidente e cai da obra no meio da rua, deixando mulher e filho. A tragédia é construída em versos que terminam sempre com uma palavra proparoxítona (lembre-se de que toda proparoxítona é acentuada). Dá para imaginar o trabalho que deu criar um texto com sentido e ritmo baseados na escolha das palavras? Pois bem, esse é o trabalho dos grandes poetas e Chico Buarque, além de ser um maravilhoso letrista, ainda é ótimo compositor. Resultado: suas músicas são de uma riqueza ímpar!
Assistam ao vídeo acompanhando a letra da música. Observem as trocas que ele faz na ordem das palavras e os novos sentidos que aparecem nos versos.
Pode não ser o estilo de música que vocês estão acostumados a escutar, mas tenho certeza de que, se observarem a costrução dela, vão aprender a admirar o conjunto da obra. Isso é arte! E a gente aprende a ter sensibilidade aos poucos...
Amou daquela vez como se fosse a última / Beijou sua mulher como se fosse a última / E cada filho seu como se fosse o único / E atravessou a rua com seu passo tímido / Subiu a construção como se fosse máquina / Ergueu no patamar quatro paredes sólidas / Tijolo com tijolo num desenho mágico / Seus olhos embotados de cimento e lágrima / Sentou pra descansar como se fosse sábado / Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe / Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago / Dançou e gargalhou como se ouvisse música / E tropeçou no céu como se fosse um bêbado / E flutuou no ar como se fosse um pássaro / E se acabou no chão feito um pacote flácido / Agonizou no meio do passeio público / Morreu na contramão atrapalhando o tráfego /// Amou daquela vez como se fosse o último / Beijou sua mulher como se fosse a única / E cada filho seu como se fosse o pródigo / E atravessou a rua com seu passo bêbado / Subiu a construção como se fosse sólido / Ergueu no patamar quatro paredes mágicas / Tijolo com tijolo num desenho lógico / Seus olhos embotados de cimento e tráfego / Sentou pra descansar como se fosse um príncipe / Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo / Bebeu e soluçou como se fosse máquina / Dançou e gargalhou como se fosse o próximo / E tropeçou no céu como se ouvisse música / E flutuou no ar como se fosse sábado / E se acabou no chão feito um pacote tímido / Agonizou no meio do passeio náufrago / Morreu na contramão atrapalhando o público / // Amou daquela vez como se fosse máquina / Beijou sua mulher como se fosse lógico / Ergueu no patamar quatro paredes flácidas / Sentou pra descansar como se fosse um pássaro / E flutuou no ar como se fosse um príncipe / E se acabou no chão feito um pacote bêbado / Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

3 comentários:

  1. Puxa, Tati, sou fã do Chico e nunca tinha parado para observar que ele usava todas essas proparoxítonas! (E de propósito, claro!) Só mesmo tendo o olho clínico de professora de LP!... Adorei! Beijos! (Iara Paula)

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  2. Adorei apesar de eu não ter escultado nunca uma música se quer assim eu achei legal,eu observei a música duas vezes e na terceira cantei junto.
    Ótima maneira de estudar uma matéria tão fechada que abre a porta para palavras ou frases que me surpreendem,adorei.

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  3. Essa música realmente é muito linda mesmo, Bruna! Que tal procurar no Google outras músicas da MPB? São sempre muito ricas em imagens, sons e construção textual.
    Beijos!

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