Oi, galera!
Para quem já assistiu às aulas sobre acentuação, deixo aqui uma obra prima da MPB (Música Popular Brasileira). É a música "Construção". Chico Buarque, um dos maiores compositores da atualidade, escreveu sobre um operário que sai um dia para trabalhar, mas sofre um acidente e cai da obra no meio da rua, deixando mulher e filho. A tragédia é construída em versos que terminam sempre com uma palavra proparoxítona (lembre-se de que toda proparoxítona é acentuada). Dá para imaginar o trabalho que deu criar um texto com sentido e ritmo baseados na escolha das palavras? Pois bem, esse é o trabalho dos grandes poetas e Chico Buarque, além de ser um maravilhoso letrista, ainda é ótimo compositor. Resultado: suas músicas são de uma riqueza ímpar!
Assistam ao vídeo acompanhando a letra da música. Observem as trocas que ele faz na ordem das palavras e os novos sentidos que aparecem nos versos.
Pode não ser o estilo de música que vocês estão acostumados a escutar, mas tenho certeza de que, se observarem a costrução dela, vão aprender a admirar o conjunto da obra. Isso é arte! E a gente aprende a ter sensibilidade aos poucos...
Amou daquela vez como se fosse a
última /
Beijou sua mulher como se fosse a
última /
E cada filho seu como se fosse o
único /
E atravessou a rua com seu passo
tímido /
Subiu a construção como se fosse
máquina /
Ergueu no patamar quatro paredes
sólidas /
Tijolo com tijolo num desenho
mágico /
Seus olhos embotados de cimento e
lágrima /
Sentou pra descansar como se fosse
sábado /
Comeu feijão com arroz como se fosse um
príncipe /
Bebeu e soluçou como se fosse um
náufrago /
Dançou e gargalhou como se ouvisse
música /
E tropeçou no céu como se fosse um
bêbado /
E flutuou no ar como se fosse um
pássaro /
E se acabou no chão feito um pacote
flácido /
Agonizou no meio do passeio
público /
Morreu na contramão atrapalhando o
tráfego ///
Amou daquela vez como se fosse o
último /
Beijou sua mulher como se fosse a
única /
E cada filho seu como se fosse o
pródigo /
E atravessou a rua com seu passo
bêbado /
Subiu a construção como se fosse
sólido /
Ergueu no patamar quatro paredes
mágicas /
Tijolo com tijolo num desenho
lógico /
Seus olhos embotados de cimento e
tráfego /
Sentou pra descansar como se fosse um
príncipe /
Comeu feijão com arroz como se fosse o
máximo /
Bebeu e soluçou como se fosse
máquina /
Dançou e gargalhou como se fosse o
próximo /
E tropeçou no céu como se ouvisse
música /
E flutuou no ar como se fosse
sábado /
E se acabou no chão feito um pacote
tímido /
Agonizou no meio do passeio
náufrago /
Morreu na contramão atrapalhando o
público / //
Amou daquela vez como se fosse
máquina /
Beijou sua mulher como se fosse
lógico /
Ergueu no patamar quatro paredes
flácidas /
Sentou pra descansar como se fosse um
pássaro /
E flutuou no ar como se fosse um
príncipe /
E se acabou no chão feito um pacote
bêbado /
Morreu na contra-mão atrapalhando o
sábado
Puxa, Tati, sou fã do Chico e nunca tinha parado para observar que ele usava todas essas proparoxítonas! (E de propósito, claro!) Só mesmo tendo o olho clínico de professora de LP!... Adorei! Beijos! (Iara Paula)
ResponderExcluirAdorei apesar de eu não ter escultado nunca uma música se quer assim eu achei legal,eu observei a música duas vezes e na terceira cantei junto.
ResponderExcluirÓtima maneira de estudar uma matéria tão fechada que abre a porta para palavras ou frases que me surpreendem,adorei.
Essa música realmente é muito linda mesmo, Bruna! Que tal procurar no Google outras músicas da MPB? São sempre muito ricas em imagens, sons e construção textual.
ResponderExcluirBeijos!